Empreender não é para qualquer um, mas para quem se arrisca pode ser, sim, algo recompensador. A atividade vem ganhando destaque nos últimos anos em especial pelas startups - empresas de perfil inovador que crescem exponencialmente em pouco tempo. Na década mais recente, elas balançaram diversos setores e áreas até então consolidadas.

Mas entender tudo isso e como chegamos a este cenário demanda atenção: passa por falar de perfis empreendedores, do cenário global e local, de economia, crise financeira e política e relações comerciais. É o que faremos aqui. Neste texto, vamos entender, melhor este assunto e, entre outras coisas, o novo perfildo empreendedorismo no Brasil. Acompanhe conosco.

O que forma um perfil empreendedor?

Perfis empreendedores - é importante que se diga que existem muitos - compreendem uma série de características e comportamentos que podem e devem ser desenvolvidos. Mas antes de aperfeiçoar qualquer coisa da própria personalidade, o empreendedor tem que acreditar no que faz. Essa é a base.

A partir disso, podemos dizer que o perfil empreendedor é formado por uma vontade de colocar ideias em prática, ainda que outras pessoas o desencoragem. No fundo, essa atitude estaria relacionada ao que comentamos sobre acreditar no que faz. Mas a verdade é que se a pessoa não tiver um propósito, dificilmente ela será capaz de manter a fé em suas ideias durante muito tempo.

Por isso, outro aspecto fundamental é o planejamento. A capacidade de botar num papel (figurativamente ou não) de forma estruturada o que se pretende fazer é muito importante para que não se faça as coisas por impulso e também para amenizar os imprevistos. Nesse aspecto, um perfil empreendedor é formado por alguém que tenha metas e objetivos claros.

A autoconfiança é outra base do perfil empreendedor. E essa é uma característica sempre a ser desenvolvida. Uma maneira de fazer isso é discutir os dilemas com alguém que você confia, por exemplo, arranjando uma espécie de mentor.

Esse mentor pode lembrar de uma ideia importante: a perseverança. As dificuldades vão surgir, é claro, mas o perfil do empreendedor ideal sabe que muitos dos percalços são naturais à toda trajetória de sucesso. Logo, não faz sentido desistir de suas ambições.

Como é o cenário para o empreendedorismo no Brasil?

Existe um discurso estabelecido no senso comum de que empreender no Brasil é algo difícil. Mas as dificuldades dependem muito das especificidades de cada setor, época e local. E, claro, o fator individual também é muito importante. Por isso é essencial pensar em que tipo de empreendedor estamos falando. Falaremos mais adiante.

Quando falamos em empreendedorismo, não só no Brasil mas em qualquer país, não tem como não falar em tecnologia. A famigerada indústria 4.0 surgida nos últimos anos alterou os padrões até então consolidados. Já não dá para pensar em empreendedorismo como se imaginava nos anos 1990, por exemplo.

Dá para ter uma ideia melhor disso quando a gente fala de alguém que vai investir no comércio hoje. Não tem como essa pessoa não pensar também no e-commerce e em todas as possibilidades tecnológicas no próprio espaço físico da loja. Ou seja, a alta tecnologia acessível é parte do cenário do empreendedorismo no Brasil e no mundo.

Outro fator importante para se pensar quando falamos desse assunto é a própria crise financeira. E repare como, novamente, quando falamos de algo no nosso país é impossível desconectar com o resto do mundo. Entenda:

A partir de 2008, uma crise financeira começou nos Estados Unidos, fruto entre outras coisas, de uma bola do setor imobiliário, e logo se espalhou pelo mundo inteiro. Afinal, estamos falando daquela que há décadas é a maior economia do planeta, e que, até então mantinha relações diplomáticas e comerciais de maneira multilateral com as nações. O cenário é propício para um efeito borboleta: uma alteração de padrão em determinada área é capaz de afetar outros cantos do mundo.

Isso afetou os EUA e grandes economias do continente europeu e, evidentemente, solapou qualquer possibilidade de grandes investimentos a longo prazo. Assim, como a economia funciona como uma cadeia, o empreendedorismo sofreu também um baque.

No Brasil, dizia-se, tudo tranquilo. O país colhia os frutos do chamado boom das commodities - que são as exportações de pouco valor agregado, geralmente presentes na natureza, como soja, arroz etc. Em razão do crescimento de outras economias emergentes, em especial a China, o país vivia um bom momento e com o consumo muito aquecido.

O cenário se manteve assim, promissor aparentemente, até 2013. Mas a partir, principalmente de 2015 a crise financeira pegou em cheio. O ciclo de consumo acabou e os empresários começaram a demitir muita gente. Boa parte dos trabalhadores caíram na informalidade para conseguir pagar as próprias contas.

Esse cenário contribui para o novo perfil do empreendedorismo no Brasil devido a dois efeitos: O primeiro é que essa informalidade estimula, por uma questão de simples sobrevivência, um empreendedorismo do trabalhador pouco qualificado que está longe de ser essa idealização do jovem empresário de sucesso que monta a própria empresa e ganha milhões. Não.

Estamos falando da costureira que abre um MEI ou de um jovem que passa a vender açaí na praia de um jeito diferente para atrair a clientela. Isso é um empreendedorismo criado pela precarização das relações de trabalho e por uma economia em crise. Mas não deixa de fazer parte do cenário brasileiro, por isso é importante mencionar.

O segundo efeito é que como a crise afetou os empresários um pouco mais instruídos e as grandes empresas, as corporações passaram a ter pouco recurso para investir. Nesse cenário, floresceram as startups - as empresas relativamente pequenas que desenvolvem soluções tecnológicas.

As grandes empresas e investidores passaram a enxergar nas startups uma outra oportunidade para oferecer um serviço de maior qualidade, sem ter de arriscar num produto que poderia não dar certo. É diferente de arriscar com a equipe da própria corporação. O erro pode custar milhões. Startups erram antes de acertar e, quando acertam, as outras empresas entram com um investimento maior.

Mas agora que o país tem se recuperado da crise, principalmente no último ano, sobrou muita coisa desse cenário. As startups e o empreendedorismo informal não devem ir embora tão cedo e entender seus mecanismos é também compreender melhor o empreendedorismo no Brasil.

Qual o novo perfil do empreendedorismo no Brasil?

A busca pela independência faz com que cada vez mais pessoas jovens busquem empreender. O que impacta no perfil médio do empreendedor no Brasil, evidentemente. De acordo com a pesquisa GEM 2017, do Sebrae/IBQP, em 2016 a participação de pessoas entre 18 e 34 anos no total de empreendedores na fase inicial teve um salto: de 50% para 57%.  Esses valores representam 15,7 milhões de cidadãos brasileiros.

Outro dado da pesquisa é o aumento de quem busca empreender por oportunidade: de 57% para 59% das pessoas ouvidas. Já a taxa total de empreendedores ficou em 36,4%. Se consideradas todas as idades, os empreendedores no Brasil somam 50 milhões de pessoas.

Podemos falar de empreendedorismo, startups e termos tecnológicos e inglês, mas a verdade é que o conceito básico ultrapassa em muito esse nicho. Como falamos, existem muitos empreendedores que não necessariamente tem curso superior, que são motivados mais pela necessidade e pelo cenário econômico pós crise. Por isso é difícil também falar em um perfil definitivo. Mas podemos falar desses dados de pesquisas feitas aqui e ali.

Por exemplo, o mesmo levantamento feito pelo Sebrae mostra que de cada 100 brasileiros e brasileiras adultos (ou seja, pessoas que têm entre 18 e 64 anos), 36 deles conduziram  algum tipo de atividade empreendedora em 2016. Estamos falando de atividades envolvendo criação ou aperfeiçoamento de um empreendimento. O número corresponde a um terço dos adultos brasileiros.

Outra informação interessante relacionado ao envolvimento dos jovens é que tem entre 25 e 34 anos foi mais ativo na criação de negócios. Isso significa que 30,5% de homens e mulheres desta faixa de idade estão numa fase em que tentam empreender ou já estabeleceu, nos últimos três anos, uma empresa.

Entre os mais jovens empreendedores, aquele entre 18 e 24 anos, o percentual envolvido com criação de empresas é de 20,3%. Já analisando o recorte de gênero, existem 24 milhões de empreendedoras. Elas estão, em sua maioria, entre os mais jovens.

A pesquisa do Sebrae indica também a já mencionada diferença entre o empreendimento por necessidade e por oportunidade. O segundo grupo teve um pequeno crescimento em 2017 - o tal indicativo de recuperação da crise pela precarização das relações de trabalho. Em 2016, a relação entre empreendedor inicial por necessidade e empreendedor por oportunidade era de 1 para 1,4. No ano seguinte esse número foi para 1,5.

Falando especificamente de nível de escolaridade, entre os empreendedores iniciais, o grupo mais ativo é justamente aquele que tem apenas o ensino fundamental, 23,9%. O número representa 10% a mais do que o nível superior. Outro dado importante: 8 milhões de empreendedores já estabelecidos não completaram o ensino médio.

Por que tantos jovens querem empreender?

Para falar mais detalhadamente sobre a participação dos jovens vamos recorrer a outra pesquisa. Essa elaborada pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), a“Jovens Empresários Empreendedores”.

De acordo com esse estudo, dois em cada três pessoas mais novas nascidas no Brasil têm a ideia de virar empreendedor nos próximos anos. O objetivo é muito simples e está bastante ligado a questões próprias dessa fase da vida: a realização pessoal. A despeito da crise, ao menos de acordo com essa pesquisa, menos da metade das pessoas ouvidas se dizem pessimista com o mercado formal de trabalho.

E não é pequeno o universo da pesquisa: 5,6 mil profissionais, com idades entre 25 e 30 anos, de oito países. Entre eles Brasil, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha, Espanha, China, Índia e Rússia. A Firjan diz que aproximadamente 600 entrevistas em cada país foram realizadas pela equipe que se debruçou sobre esses números.

A partir desse grande universo, podemos buscar as respostas para as nossas perguntas, que também estavam presentes nos formulários da Firjam. Vamos lá, 76,4% dos entrevistados disseram que a realização pessoal é a maior razão para empreender.

Mas as respostas não eram eliminatórias. Era possível um entrevistado falar mais de uma razão. Ter uma melhor qualidade de vida apareceu também de maneira significativa, representando outros 75,6% dos entrevistados. Em seguida, maiores ganhos financeiros, com 70%. Já para 66,1%, o empreendedorismo é algo promissor, no mínimo.

Também há questões próprias geracionais que ajudam a desenhar o perfil do jovem empreendedor. Por exemplo, outros 64,5% disseram que não ter de responder a um chefe é razão para investir no próprio negócio. A questão de fazer o próprio horário também foi um motivo apontado nessa pesquisa, representando 60,7% dos entrevistados.

Outro espaço ainda para razões idealistas: 58,4% quer fazer algo que impacte positivamente a sociedade e 63,3% tem a expectativa de ser respeitado e reconhecido no seu meio. Menos da metade (41,2%) aponta falta de perspectiva, mesmo falando do mercado formal de trabalho em recuperação da crise financeira e 70% considera que hoje existe um ambiente atraente para a abertura de novos empreendimentos no país.

Detalhe: a pesquisa é de um período mais complicado da crise política e financeira. Quando o clima de incerteza era muito maior. É claro que varia entre países. Na China, 67% encara com otimismo o investimento em metrópoles e na Índia esse número fica em 59%. As pessoas que têm o próprio empreendimento e estão plenamente satisfeitas representam  46,1%.

Outros dados interessantes: 81,1% dos jovens que empreenderam montou sua empresa do zero, 15,4% herdaram o empreendimento de um familiar e apenas 3,2% compraram. 31,1% considera ainda que dar continuidade a um empreendimento da família é a opção mais fácil.

Os 9 tipos de empreendedor no Brasil

José Dornelas, ouvido pela revista Exame.

1. Informal

Este é o tal do empreendedor por necessidade, como já mencionado. Ele ganha dinheiro porque precisa sobreviver. Para ele, não existe muito uma visão a longo prazo. Pode haver, mas é mais comum que essa perspectiva seja afetada pelas necessidades mais urgentes.

Quem está nessa categoria em geral trabalha para garantir o necessário para sobreviver. O risco da iniciativa costuma ser relativamente baixo. Já os compromissos com planos futuros são praticamente inexistentes. O tal do Microempreendedor Individual (MEI) é uma forma que ameniza esses números e obriga o pequeno empreendedor a pensar em questões  mais burocráticas e de ordem de planejamento.

2. Cooperado

O empreendedor cooperado é aquele mais conectado às cooperativas, como o nome já dá a entender. Estamos falando aqui de artesãos, por exemplo. Para esse perfil, o trabalho realizado em equipe é essencial.

O cooperado já tem um planejamento um pouco maior: o de, em essência, crescer até poder ser independente. Mas ainda é um empreendedorismo mais intuitivo, com poucos recursos e baixo risco.

3. Individual

Outro perfil, e que você talvez seja encaixado, é o do empreendedor individual. Cada vez mais comum, este é aquele que até pouco tempo atrás vivia na informalidade, mas resolveu se formalizar através do MEI.  É o seu início na estruturação de uma empresa.

Ainda assim, o empreendedor individual não é aquele que pensa em crescimento exponencial. Ele quer que seu negócio dê certo e não quer ter dores de cabeça com grandes burocracias (vale lembrar que manter um MEI é relativamente fácil e exige poucos recursos).

O individual ainda tem um pé naquele empreendedorismo por necessidade. Também se acentua com a crise e a precarização das relações de trabalho. O MEI geralmente trabalha sozinho ou no máximo com um colaborador, para parcerias eventuais.

4. Franqueado e franqueador

Talvez um tipo mais tradicional, este é ao mesmo tempo uma modalidade que às vezes não é vista exatamente como empreendedorismo. Afinal, nesse caso, você não está começando um negócio do zero. Mas não se engane.

Quem está nesse perfil em geral já tem um capital e tem em mente o retorno que deseja receber de seu investimento, e em quanto tempo espera isso acontecer. Já o franqueador, aquele que constrói a rede para marca, e venda das franquias, também entra na equação. Esse empreendedor tem que espalhar sua ideia pelo mundo, é o que o move. Cresceu muito com a globalização, em especial,  com os empreendimentos dos EUA que levavam toda uma ideia de modo de vida e comportamento.

6. Corporativo

Não menos importante, o empreendedor corporativo é aquele que, entre outras coisas, pode ser também chamado de “intraempreendedor”: aquele funcionário que empreende com novos projetos na empresa em que já exerce funções onde trabalha.

O corporativo está mais ligado aos ideais da empresa. Ele quer se destacar na carreira e obter, na corporação, promoções e bônus. Será que você é esse perfil?

7. Público

Já entendemos aqui como são alguns perfis e isso vai ajudar a compreender o empreendedor público. Este é uma mescla do perfil corporativo com algo do setor governamental.

Nos últimos tempos, surgiram vários funcionários públicos preocupados em utilizar melhor os recursos. É um perfil baseado numa ideia, que tem obtido força, de dar menos peso à máquina pública. O empreendedor público quer, afinal, inovar em serviços básicos. Suas motivações podem ser bastante nobres.

8. Do conhecimento

O empreendedor do conhecimento faz uso de seus saberes em determinadas áreas para conseguir faturar e se destacar muito na sua área. Em geral, ele tem profundo conhecimento em uma área que está em falta no mercado, ao menos da forma extremamente especializada.

Um exemplo dessa mão de obra é a da programação. Quantas pessoas você conhece que sabem diversas linguagens computacionais? Não é à toa que várias instituições de ensino e empresas têm investido nisso. Elas sabem que existe muito a ser explorado nessa área.

Um atleta, por exemplo, que precisa ganhar medalhas durante a sua carreira, faz o quê? Capitaliza em cima dos seus potenciais para fazer as coisas darem certo. É um pouco essa lógica., aplicado a artistas e tantas outras áreas: o reconhecimento se dá pelo conhecimento bem aplicado e que atende a uma real necessidade.

9. Do negócio próprio

Este é um clássico e atende a ideia do imaginário quando falamos em empreendedorismo, não é? O empreendedor ou empreendedora do negócio próprio é aquela pessoa que também está atrás de um estilo de vida, de um grande ideal, que em geral resume aquela iniciativa. É uma pessoa visionária.

Podemos ainda falar em subtipos quando nos referimos a quem tem um negócio próprio, como o empreendedor nato, o serial e o “normal”. O primeiro em geral é visto como aquela pessoa genial, com trajetória de negócio exemplar. Um exemplo: Bill Gates. Quem não conhece e vê um exemplo em sua trajetória profissional. Inspiradora, não é mesmo?

O segundo seria aquele destinado a criar negócios em sequência. A ideia dele não é necessariamente ter um profundo vínculo com os empreendimentos em si, mas sim saber qual o operacional de tudo aquilo. O importante é fazer.

O terceiro subtipo mencionado, o “normal”, é aquele empreendedor que desenvolve um planejamento com tudo montado para ter o menor número de erros possíveis. Tudo está muito bem estruturado, ao menos em tese. Esse perfil é aquele que tem uma busca incessante por satisfação pessoal, autonomia financeira, entre outras coisas.

Independentemente de qual seja o seu tipo, é importante saber da existência deles. Além disso, você pode muito bem transitar entre esses perfis com o passar do tempo. Até porque, como deixamos claro aqui, não só as pessoas, individualmente mudam, mas os cenários econômicos mudam também. Em 2018 você pôde, por exemplo, ter empreendido por necessidade. Mas quem sabe o que será deste ano?

Não dá para prever, mas é possível ter alguns palpites para se planejar. Por isso preparamos justamente um texto em que contamos o que especialistas esperam de 2019. Que tal dar uma conferida?